quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A linguagem do artigo acadêmico-científico

A linguagem e expressão do texto acadêmico-científico deve considerar a situação comunicativa na qual nasce. Dessa forma, dado o universo discursivo da ciência em que os pares comunicam aquilo que descobrem nos seus percursos investigativos, outras anotações são relevantes.

Primeiro, a estrutura frasal do artigo científico requer simplicidade, objetividade e clareza. Tais qualidades são obtidas, se o produtor mantiver o paralelismo (expressão das ideias respeitando a identidade de formas gramaticais); se elaborar frases na ordem direta (primeiro o sujeito, depois o verbo e seus complementos); se souber sinalizar, com pontuação adequada, o seu texto; se evitar frases fragmentadas ou siamesas; se articular orações e parágrafos empregando conectores e palavras adequadas às ligações lógicas estruturadas; se utilizar tempos verbais adequados (por exemplo, o presente para generalizações, o pretérito para relatos e o futuro do pretérito para hipóteses), entre outras possibilidades linguístico-expressivas.

O paralelismo é a expressão de ideias similares de forma gramatical idêntica, em vista da necessidade de clareza do que se escreve. Assim, a enumeração de elementos, por exemplo, deve seguir a hierarquia e as funções sintáticas, sob pena de não haver clareza e precisão no que é dito. Um exemplo de paralelismo, no que concerne a formas gramaticais em itens é:

Garlipp (2008) argumenta que é por meio da preferência pela liquidez que o dinheiro desempenha seu crucial papel na construção teórica de Keynes. Esse papel deriva de sua função mais relevante – a de reserva de valor – e isso é o que permite integrar a teoria do valor à teoria monetária. Diante disso, podem-se tomar como as principais características distintivas de uma economia monetária e empresarial: (a) o objetivo dos agentes; (b) o caráter das decisões; (c) a suscetibilidade às flutuações; (d) a importância do tempo e da incerteza; e (e) as propriedades do dinheiro (ALVES; VERÍSSIMO, 2010, p. 16).

Observem-se os substantivos nos inícios de cada item da lista. Não há uso de verbos na listagem, uma vez que foi adotada a substantivação (caráter, suscetibilidade, importância, propriedades, palavras que estão em negrito para destaque). Mais um exemplo de paralelismo é o que se oportuniza pelo uso de recursos linguísticos como conjunções (e, nem, não apenas/mas também; tanto/quanto); expressões explicativas (ou melhor, por exemplo); repetições (seja/seja; ou/ou), entre outros.
Ressalvam-se as frases fragmentadas e siamesas, a partir dos seguintes exemplos com problemas. A frase fragmentada é a que apresenta separadamente o que deveria estar junto, como em: “A substância utilizada promoveu a proliferação dos micróbios. Encerrando um ciclo de desenvolvimento da planta”. A segunda parte, que indica uma circunstância, com um verbo no gerúndio (forma nominal que expressa um modo ou uma ação em curso), deveria estar ligada à primeira: “A substância utilizada promoveu a proliferação dos micróbios, encerrando um ciclo [...]”. A frase siamesa, ao contrário, apresenta juntos trechos que deveriam estar separados, como em: “O candidato estava feliz, havia passado” (LEDUR, 2009, p. 202). Para corrigir esta frase siamesa, assim se pode escrever, entre outras possibilidades: “O candidato estava feliz: havia passado”; “O candidato estava feliz, pois havia passado”; “O candidato estava feliz. Havia passado” (LEDUR, 2009, p. 202).

Outras sugestões como as que remetem à articulação, à conexão, à pontuação, entre outros detalhes que surgem no ato de comunicação escrito, são abordadas nas anotações ou apontamentos, que trazem links interessantes para consulta do leitor deste Manual.

É possível dizer, a partir disso, que escrever requer atenção, observação, conhecimento, exercício e hábito somados à leitura persistente e permanente.

Referências

ALVES, T. G.; VERÍSSIMO, M. P. Política monetária, crise financeira e Estado: uma abordagem keynesiana. Perspectiva Econômica, v. 6, n. 1, p. 16-36, 2010.
LEDUR, P. F. Português Prático. Porto Alegre: Age Editora, 2009. 231 p.


Fonte: Apontamentos de A a Z. NRT 2010. 
Cátia de Azevedo Fronza (Coordenação); Juliana Alles de Camargo de Souza (Organização).

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